A construção civil, um dos pilares do desenvolvimento econômico, tem sido cada vez mais desafiada a repensar suas práticas em prol da sustentabilidade. A preocupação com o impacto ambiental, a escassez de recursos naturais e a necessidade de um futuro mais verde têm impulsionado a busca por soluções inovadoras em todas as etapas do processo construtivo. Nesse cenário, o Nordeste brasileiro, com sua rica cultura, biodiversidade e desafios socioambientais, emerge como um palco crucial para a implementação de práticas construtivas mais responsáveis.
Um dos principais problemas enfrentados pela região é o descarte inadequado dos resíduos da construção e demolição (RCD). Toneladas de entulho, que poderiam ser reaproveitados, acabam em terrenos baldios, margens de rios e até mesmo em áreas urbanas, gerando poluição visual, riscos à saúde pública e degradação ambiental. Esse cenário evidencia a urgente necessidade de mudança de paradigma na gestão de materiais na construção civil nordestina.
É nesse contexto que surge a Materioteca Sustentável, uma solução inovadora e promissora para o problema do RCD. De forma simplificada, uma materioteca funciona como um centro de coleta, triagem, armazenamento e disponibilização de materiais de construção provenientes de demolições, reformas e sobras de obras. Mais do que um simples depósito, é um espaço de ressignificação de materiais, onde o que seria considerado lixo ganha uma nova vida, transformando-se em recursos valiosos para novas construções. Imagine um local onde você pode encontrar desde tijolos e telhas usados em perfeito estado até portas, janelas e revestimentos com potencial para serem reutilizados, tudo isso de forma organizada e catalogada. Essa é a essência de uma materioteca.
Este artigo propõe a criação de uma Materioteca Sustentável especialmente voltada para as necessidades do Nordeste. Nosso objetivo é apresentar um catálogo de materiais reciclados, com foco naqueles que são facilmente encontrados na região e que se adequam às características climáticas e construtivas locais. Ao longo deste texto, exploraremos os desafios da construção civil no Nordeste, detalharemos o conceito e os benefícios da Materioteca Sustentável e, finalmente, apresentaremos um guia prático de materiais reciclados, incentivando sua adoção em projetos de construção e reforma, contribuindo para um futuro mais sustentável e resiliente para a região.
Desafios da Construção Civil no Nordeste e o Impacto dos Resíduos
A construção civil no Nordeste brasileiro, embora essencial para o desenvolvimento da região, enfrenta uma série de desafios singulares que precisam ser superados em busca de um futuro mais sustentável. Estes desafios vão desde as condições climáticas específicas até a gestão de resíduos e as oportunidades para a economia local.
Clima e Materiais:
O Nordeste é conhecido por seu clima peculiar, marcado por altas temperaturas, umidade significativa em algumas áreas e intensa salinidade nas regiões litorâneas. Essas características exigem uma cuidadosa seleção de materiais de construção que sejam capazes de resistir a essas condições adversas sem perder a durabilidade e a eficiência. O calor intenso, por exemplo, demanda materiais com bom desempenho térmico para evitar o superaquecimento das edificações, enquanto a umidade e a salinidade exigem resistência à corrosão e à degradação.
Além disso, a região muitas vezes enfrenta dificuldades no acesso a determinados materiais, o que implica na necessidade de transportá-los por longas distâncias. Esse transporte, frequentemente realizado por rodovias, não só encarece o custo final da construção, como também aumenta significativamente a pegada de carbono do setor, contribuindo para as emissões de gases de efeito estufa. A busca por materiais locais e adaptados ao clima torna-se, portanto, uma necessidade premente para a redução do impacto ambiental.
Gestão de Resíduos:
A geração de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) é um problema crescente no Nordeste. Embora dados precisos e atualizados sobre a geração de RCD na região ainda sejam escassos, estudos indicam que a construção civil é uma das principais fontes de resíduos sólidos urbanos. O descarte desses materiais, muitas vezes, é feito de maneira inadequada em terrenos baldios, lixões clandestinos ou mesmo em cursos d’água. As consequências são graves: poluição do solo e da água, impacto visual negativo e proliferação de vetores de doenças, como mosquitos, ratos e baratas, que encontram nesses locais ambiente propício para a reprodução.
A falta de infraestrutura adequada para a reciclagem e reutilização de RCD agrava ainda mais o problema. Poucas cidades da região dispõem de usinas de reciclagem de entulho e, mesmo quando existem, muitas vezes operam abaixo da capacidade ideal, seja por falta de investimento, tecnologia defasada ou por problemas logísticos na coleta e triagem dos resíduos.
Economia Local e Sustentabilidade:
Apesar dos desafios, a gestão inadequada dos resíduos da construção civil também revela oportunidades significativas para impulsionar a economia circular no Nordeste. A reciclagem e reutilização de RCD representam um enorme potencial para a redução da extração de matérias-primas virgens, a economia de recursos e a diminuição da poluição. Além disso, a criação de uma cadeia de valor em torno da reciclagem de materiais pode gerar emprego e renda para a população local, especialmente para comunidades mais vulneráveis. Cooperativas de catadores, pequenas empresas de reciclagem e artesãos podem se beneficiar desse novo mercado, contribuindo para a formalização de atividades econômicas e para o fortalecimento da economia local.
Investir na reciclagem de RCD e na utilização de materiais reciclados na construção civil é, portanto, uma estratégia fundamental para o desenvolvimento sustentável do Nordeste, promovendo a conservação ambiental, a inclusão social e o crescimento econômico de forma integrada e duradoura. A Materioteca Sustentável, nesse contexto, surge como uma ferramenta poderosa para impulsionar essa transformação, conectando os desafios da construção civil com as oportunidades da economia circular.
Materioteca Sustentável: Uma Solução Inovadora
Diante dos desafios apresentados, a Materioteca Sustentável emerge como uma resposta criativa e eficaz para promover a sustentabilidade na construção civil, especialmente no contexto do Nordeste brasileiro. Mas, afinal, o que define e como opera essa iniciativa inovadora?
Conceito e Funcionamento:
Uma Materioteca Sustentável pode ser definida como um centro de gerenciamento de materiais de construção reutilizáveis e reciclados, atuando como um elo entre a demolição/reforma e a nova construção. É um espaço físico, mas também virtual, onde resíduos provenientes de obras são coletados, triados, catalogados e disponibilizados para reuso. O funcionamento se dá em etapas:
- Coleta: Os materiais, que podem incluir tijolos, telhas, madeira, portas, janelas, metais e outros, são coletados de obras, demolições e doações da comunidade.
- Triagem: Profissionais qualificados avaliam a qualidade e o potencial de reuso de cada item, separando-os por tipo e condição.
- Catalogação: Os materiais são então limpos, processados (quando necessário) e rigorosamente catalogados em um sistema, com informações detalhadas sobre suas características, dimensões, origem e disponibilidade. Esse catálogo pode ser acessado online, facilitando a busca e a seleção por parte dos interessados.
- Disponibilização: Os materiais ficam armazenados de forma organizada e acessível, prontos para serem adquiridos, muitas vezes a preços simbólicos ou por meio de doação, por construtores, arquitetos, designers, artistas e pela comunidade em geral, que buscam alternativas sustentáveis e econômicas para seus projetos.
Para ilustrar o sucesso desse modelo, podemos citar alguns exemplos inspiradores:
- Rotor Deconstruction (Bélgica): Especializada na desmontagem e recuperação de elementos de construção, a Rotor Deconstruction se tornou referência na Europa por seu trabalho meticuloso e pela qualidade dos materiais que oferece.
- Building Materials Reuse Association (BMRA) (EUA): Uma organização sem fins lucrativos que promove a recuperação e o reuso de materiais de construção em toda a América do Norte, oferecendo treinamento, certificação e uma rede de contatos para profissionais e empresas do setor.
- Materioteca da Cidade Universitária de São Paulo (Brasil): Embora com um foco mais acadêmico, essa iniciativa da USP coleta, cataloga e disponibiliza materiais, além de promover pesquisas sobre o reuso de RCD.
Benefícios Ambientais, Econômicos e Sociais:
A implementação de Materiotecas Sustentáveis traz uma série de benefícios em diversas frentes:
- Ambientais: A redução do descarte de RCD em aterros sanitários ou locais inadequados é, sem dúvida, um dos principais ganhos. Isso minimiza a contaminação do solo e da água, além de diminuir a demanda por novos aterros. A diminuição da extração de recursos naturais, como areia, brita e madeira, também é significativa, contribuindo para a preservação de ecossistemas e a redução da pegada de carbono associada à produção de novos materiais.
- Econômicos: A economia na compra de materiais para construção é um atrativo para construtores e particulares, especialmente em projetos de menor porte ou de cunho social. Além disso, a materioteca impulsiona a economia circular, gerando novas oportunidades de negócios e empregos relacionados à coleta, processamento, venda e utilização dos materiais reciclados.
- Sociais: A Materioteca Sustentável tem o potencial de conscientizar a comunidade sobre a importância da sustentabilidade na construção e no consumo responsável. Ela estimula a pesquisa e a inovação em materiais e técnicas construtivas mais sustentáveis, além de promover a inclusão social por meio da geração de renda e da capacitação de trabalhadores na área de reciclagem de RCD.
Adaptação ao Contexto do Nordeste:
Para que uma Materioteca Sustentável seja bem-sucedida no Nordeste, é crucial que ela seja adaptada às particularidades da região. Isso significa:
- Foco em Materiais e Técnicas Locais: Priorizar a coleta e disponibilização de materiais que sejam adequados ao clima quente e úmido, como tijolos de adobe, telhas de cerâmica, madeira de reflorestamento certificada e outros materiais de baixo impacto ambiental comumente encontrados na região. Além disso, é importante incentivar técnicas construtivas tradicionais, como a taipa de pilão e o pau a pique, que utilizam recursos locais e são naturalmente adaptadas ao clima.
- Valorização dos Saberes Locais: Integrar o conhecimento popular sobre construção e materiais locais ao funcionamento da materioteca, reconhecendo e valorizando a experiência de mestres de obra, artesãos e comunidades tradicionais.
- Parcerias Estratégicas: Estabelecer parcerias com cooperativas de catadores para a coleta e triagem dos materiais, fortalecendo a economia solidária e gerando renda para esses profissionais. Além disso, a colaboração com artesãos locais pode agregar valor aos materiais reciclados, transformando-os em peças de design, mobiliário e elementos decorativos, ampliando as possibilidades de reuso e abrindo novos nichos de mercado.
Uma Materioteca Sustentável, pensada e implementada com esses cuidados, tem o potencial de transformar a construção civil no Nordeste, tornando-a mais sustentável, resiliente e socialmente justa, enquanto valoriza a identidade e os recursos locais.
Catálogo de Materiais Reciclados para Construção no Nordeste
Uma Materioteca Sustentável no Nordeste deve oferecer um catálogo de materiais diversificado e adaptado às necessidades locais. Para isso, uma seleção criteriosa é fundamental.
Critérios de Seleção:
Os materiais incluídos no catálogo da Materioteca Sustentável para o Nordeste devem atender aos seguintes critérios:
- Disponibilidade na região Nordeste: Priorizar materiais que sejam gerados em abundância como resíduos na região, facilitando a coleta e reduzindo custos de transporte.
- Adequação ao clima: Selecionar materiais que apresentem bom desempenho nas condições climáticas do Nordeste, resistindo às altas temperaturas, à umidade e, quando aplicável, à salinidade.
- Potencial de reuso e reciclagem: Escolher materiais que possam ser facilmente reaproveitados ou reciclados com o mínimo de processamento, mantendo a viabilidade econômica e ambiental.
- Custo-benefício: Considerar a relação entre o custo de aquisição (ou coleta), processamento e o valor final do material reciclado, em comparação com materiais convencionais.
- Durabilidade e resistência: Garantir que os materiais, mesmo após reciclados ou reutilizados, mantenham características de durabilidade e resistência adequadas para a aplicação na construção civil.
Categorias de Materiais:
Com base nos critérios acima, apresentamos um catálogo de materiais com alto potencial de inclusão em uma Materioteca Sustentável no Nordeste, divididos em quatro categorias principais:
1. Estrutura:
- Tijolos e blocos de concreto reciclado (de demolição): Provenientes da demolição de edificações, esses materiais podem ser triturados e moldados em novos tijolos e blocos.
- Origem: Demolições de edifícios, galpões e outras estruturas de concreto na região.
- Aplicações: Paredes estruturais, muros, fundações.
- Madeira de demolição (de casas antigas, galpões): Peças de madeira de lei, como massaranduba, peroba e jatobá, comumente encontradas em construções antigas, podem ser reaproveitadas.
- Origem: Demolição de casas antigas, engenhos, galpões, etc.
- Aplicações: Vigas, pilares, caibros, ripas, assoalhos, móveis.
- Estruturas metálicas reaproveitadas (de construções industriais): Perfis metálicos, vigas e treliças provenientes do desmonte de galpões industriais, pontes e outras estruturas.
- Origem: Desativação de indústrias, demolição de galpões, etc.
- Aplicações: Estruturas de galpões, coberturas, reforço estrutural.
2. Vedação:
- Tijolos ecológicos de solo-cimento com adição de resíduos (garrafas PET trituradas, bagaço de cana): A fabricação desses tijolos utiliza solo local e pode incorporar resíduos, diminuindo a necessidade de queima e reduzindo custos.
- Origem: Solo local, cooperativas de reciclagem de PET, usinas de cana-de-açúcar.
- Aplicações: Paredes de vedação internas e externas.
- Painéis de vedação com materiais reciclados (tetra pak, pneus inservíveis): Chapas de embalagens Tetra Pak trituradas e prensadas ou borracha de pneus podem ser utilizadas na confecção de painéis.
- Origem: Cooperativas de reciclagem, borracharias.
- Aplicações: Divisórias internas, vedações leves.
- Adobe e taipa de pilão (técnicas tradicionais que podem incorporar resíduos): Técnicas ancestrais de construção com terra crua que podem ser adaptadas para incluir fibras de bagaço de cana ou outros resíduos para melhorar suas propriedades.
- Origem: Solo local, usinas de cana-de-açúcar.
- Aplicações: Paredes de vedação, construções bioclimáticas.
3. Revestimentos:
- Revestimentos cerâmicos a partir de vidro reciclado: O vidro, coletado em cooperativas, pode ser triturado e utilizado na produção de revestimentos cerâmicos com diferentes cores e texturas.
- Origem: Cooperativas de reciclagem de vidro.
- Aplicações: Revestimento de paredes internas e externas, pisos de baixo tráfego.
- Revestimentos de piso com borracha de pneu reciclado: Granulados de borracha de pneus inservíveis podem ser aglomerados com resinas para a produção de pisos emborrachados.
- Origem: Borracharias, empresas de recauchutagem.
- Aplicações: Pisos de áreas externas, playgrounds, academias.
- Argamassas com adição de resíduos de construção civil: RCD fino, proveniente da britagem de concreto e cerâmica, pode ser utilizado como agregado miúdo na produção de argamassas.
- Origem: Demolições, reformas.
- Aplicações: Assentamento de tijolos, reboco, contrapiso.
4. Coberturas:
- Telhas ecológicas de fibra vegetal (bagaço de cana, fibra de coco): Fibras vegetais, abundantes no Nordeste, podem ser prensadas com resinas para a produção de telhas leves e resistentes.
- Origem: Usinas de cana-de-açúcar, produtores de coco.
- Aplicações: Coberturas de residências, galpões, quiosques.
- Telhas de PET reciclado: Garrafas PET trituradas e moldadas podem ser transformadas em telhas translúcidas ou pigmentadas.
- Origem: Cooperativas de reciclagem de PET.
- Aplicações: Coberturas leves, claraboias.
- Reaproveitamento de telhas de demolição: Telhas cerâmicas de barro, comumente encontradas em construções antigas, podem ser reutilizadas após limpeza e inspeção.
- Origem: Demolições de casas e edifícios antigos.
- Aplicações: Coberturas de residências, projetos de restauração.
Informações Detalhadas para Cada Material:
Para cada um desses materiais, a Materioteca Sustentável deverá fornecer informações detalhadas, incluindo:
- Descrição do material e seu processo de reciclagem/reúso: Detalhes sobre a composição do material, como ele é processado e transformado para reuso.
- Origem (fontes de coleta no Nordeste): Indicação clara de onde o material é coletado na região, incentivando a criação de uma rede de fornecedores locais.
- Aplicações na construção: Exemplos específicos de como o material pode ser utilizado em diferentes tipos de obras.
- Vantagens e desvantagens: Uma avaliação honesta dos pontos positivos e negativos de cada material, comparando-o com as opções convencionais.
- Fornecedores locais (se houver): Contato de empresas, cooperativas ou artesãos que fornecem o material reciclado na região (essa informação será atualizada conforme a rede de parceiros da Materioteca se expandir).
- Custos estimados: Uma faixa de preço do material reciclado, para fins de comparação com os materiais tradicionais.
Este catálogo é um ponto de partida e deve ser constantemente atualizado e ampliado à medida que novos materiais e tecnologias se tornem disponíveis na região. A Materioteca Sustentável tem o papel fundamental de ser um centro dinâmico de informações, pesquisa e inovação, contribuindo para uma construção civil cada vez mais sustentável no Nordeste.
Implementação e Desafios da Materioteca Sustentável no Nordeste
A criação de uma Materioteca Sustentável no Nordeste é uma iniciativa promissora, mas sua implementação bem-sucedida requer a superação de alguns desafios importantes e a criação de uma infraestrutura adequada.
Logística de Coleta e Triagem:
Um dos principais desafios é estabelecer uma logística eficiente para a coleta e triagem dos Resíduos de Construção e Demolição (RCD). Isso implica na necessidade de infraestrutura para a coleta seletiva, o que pode envolver a disponibilização de pontos de entrega voluntária (PEVs) específicos para RCD em locais estratégicos, bem como a implementação de um sistema de coleta diferenciada para grandes geradores.
Parcerias com prefeituras, cooperativas de catadores e empresas de construção são fundamentais nesse processo. As prefeituras podem contribuir na cessão de espaços para a instalação da materioteca e dos PEVs, além de apoiar na logística de coleta. As cooperativas de catadores desempenham um papel crucial na coleta, triagem e beneficiamento dos materiais, gerando renda e promovendo a inclusão social. Já as empresas de construção podem ser incentivadas a destinar corretamente seus resíduos para a materioteca, seja por meio de incentivos fiscais ou como contrapartida em processos de licenciamento ambiental.
Além disso, é imprescindível investir em treinamento para a correta separação e triagem dos materiais. Isso envolve capacitar os catadores e os funcionários da materioteca para identificar, classificar e manusear adequadamente os diferentes tipos de RCD, garantindo a qualidade e a segurança dos materiais que serão disponibilizados para reuso.
Controle de Qualidade e Certificação:
Para que os materiais reciclados sejam amplamente aceitos na construção civil, é necessário garantir sua qualidade, segurança e durabilidade. Isso passa pelo desenvolvimento de normas técnicas específicas para materiais reciclados provenientes de RCD, que estabeleçam requisitos mínimos de desempenho e padrões de qualidade.
A criação de laboratórios para testes e certificação desses materiais é outro ponto crucial. Esses laboratórios seriam responsáveis por realizar ensaios para verificar a resistência, durabilidade e outras propriedades dos materiais, assegurando que eles atendam às normas técnicas e possam ser utilizados com segurança nas construções. A certificação dos materiais, por sua vez, conferiria maior confiabilidade e incentivaria sua adoção por parte de construtores e consumidores.
Investimentos e Incentivos:
A viabilização de uma Materioteca Sustentável no Nordeste demanda investimentos públicos e privados. Recursos são necessários para a construção ou adequação do espaço físico da materioteca, aquisição de equipamentos para triagem e processamento dos materiais, contratação e capacitação de pessoal, além da manutenção das operações.
Nesse sentido, é fundamental a criação de políticas públicas de incentivo à utilização de materiais reciclados na construção. Isso pode incluir a concessão de incentivos fiscais para empresas que utilizam esses materiais, a inclusão de critérios de sustentabilidade em licitações públicas, e a exigência de um percentual mínimo de materiais reciclados em obras públicas.
Além disso, a disponibilização de linhas de crédito específicas para projetos sustentáveis que utilizem materiais provenientes da materioteca pode estimular a demanda e fomentar o desenvolvimento desse mercado.
Engajamento da Comunidade e Profissionais da Construção:
O sucesso da Materioteca Sustentável depende também do engajamento da comunidade e dos profissionais da construção. É preciso realizar campanhas de conscientização para informar a população sobre os benefícios ambientais, econômicos e sociais da iniciativa, incentivando a separação correta dos resíduos e a utilização dos materiais reciclados.
Para os profissionais da construção, é fundamental oferecer cursos de capacitação sobre as características e o uso adequado dos materiais reciclados, desmistificando preconceitos e demonstrando seu potencial. Esses cursos podem abordar temas como técnicas de construção com materiais reciclados, normas técnicas, boas práticas e estudos de caso.
Por fim, a divulgação dos resultados e benefícios da materioteca para a comunidade é essencial para manter o engajamento e demonstrar o impacto positivo do projeto. Isso pode ser feito por meio de relatórios, publicações, eventos e visitas guiadas à materioteca, mostrando na prática como a iniciativa contribui para a sustentabilidade e para a melhoria da qualidade de vida na região.
Superar esses desafios e implementar as ações necessárias exigirá um esforço conjunto do poder público, da iniciativa privada, da academia e da sociedade civil. No entanto, os benefícios potenciais de uma Materioteca Sustentável bem-sucedida no Nordeste justificam plenamente esse investimento, abrindo caminho para uma construção civil mais sustentável, inclusiva e resiliente na região.
Conclusão
A jornada que percorremos ao longo deste artigo evidenciou a importância vital da Materioteca Sustentável para o Nordeste brasileiro. Mais do que um simples depósito de materiais reciclados, a materioteca se apresenta como uma solução inovadora e estratégica para os desafios ambientais, econômicos e sociais que a região enfrenta no setor da construção civil. Ao promover o reuso e a reciclagem de Resíduos de Construção e Demolição (RCD), ela contribui diretamente para a redução do descarte inadequado, a preservação de recursos naturais, a geração de renda e o fomento à economia circular.
O potencial de transformação da construção civil na região é imenso. A adoção de materiais reciclados, aliados às técnicas construtivas adaptadas ao clima nordestino e à valorização dos saberes locais, pode revolucionar a forma como construímos, tornando-a mais sustentável, acessível e alinhada com as demandas do século XXI. A Materioteca Sustentável é a chave para destravar esse potencial, criando um novo paradigma para o setor, baseado na responsabilidade ambiental e na inclusão social.
Este é um convite à ação! Conclamamos leitores, profissionais da construção, gestores públicos e investidores a se engajarem ativamente no projeto da Materioteca Sustentável. Seja por meio da doação de materiais, da busca por soluções construtivas mais sustentáveis, do investimento em infraestrutura de reciclagem, ou da formulação de políticas públicas de incentivo, cada um pode contribuir para tornar essa iniciativa uma realidade transformadora. Profissionais da área, busquem capacitação e conhecimento sobre esses materiais. Gestores públicos, considerem a materioteca como um investimento estratégico para o futuro de suas cidades. Investidores, enxerguem o potencial de um mercado em franca expansão e com forte apelo socioambiental.
Olhando para o futuro, vislumbramos a expansão da Materioteca Sustentável, com a criação de uma rede interligada de centros em diferentes cidades do Nordeste, ampliando o acesso aos materiais reciclados e fortalecendo a cadeia produtiva da reciclagem. Imaginamos o desenvolvimento de novas tecnologias de reciclagem, impulsionado pela demanda crescente por soluções inovadoras e pela pesquisa aplicada, gerando materiais cada vez mais eficientes e com menor impacto ambiental. Acima de tudo, almejamos a consolidação de uma cultura de sustentabilidade na construção civil nordestina, onde a responsabilidade ambiental e social seja a regra, e não a exceção. A Materioteca Sustentável é um passo decisivo nessa jornada, e o seu sucesso depende do compromisso de todos nós. Juntos, podemos construir um futuro mais sustentável e resiliente para o Nordeste, começando com a ressignificação dos materiais e a construção de um novo olhar sobre o que é construir e habitar.
Chamadas para Ação (CTAs):
- Conheça mais sobre Materiotecas Sustentáveis e inspire-se em exemplos de sucesso ao redor do mundo!
- Se você é um profissional da construção, busque capacitação sobre o uso de materiais reciclados e participe da mudança!
- Se você é um gestor público, entre em contato conosco para saber como implementar uma Materioteca Sustentável em sua cidade!
- Empresas e investidores, conheçam as oportunidades de negócio e parcerias nesse mercado em expansão!
- Compartilhe este artigo e ajude a disseminar a ideia da construção civil sustentável no Nordeste!
- Faça parte dessa transformação! Doe materiais, divulgue a iniciativa e construa um futuro mais verde com a gente!